Saudade é arrumar as malas, as que não vão aos aviões nem à parte de trás dos automóveis, mas que nos fazem tomar decisões. Escolhas difíceis sobre o que nos acompanhará ou deixará de fazer parte da nossa história, quando ao partir de sempre - de quem fomos para o que seremos - a bagagem tiver que ser diminuída, pois já pesa no caminho.
E aí, sem tanta preparação, vem a dor inadvertida porque aquela roupa preferida ou a máscara encardida, de repente, não servem mais para onde se quer chegar. E o penduricalho bonito, comprado para te enfeitar, já não tem tanto efeito, agora, vendido ao bazar, porque aquilo é mesmo só acessório, o principal é você. Bonito mesmo é você.
Algumas daquelas coisas que fizeram você parecer você durante um tempo, já não dizem nada dessa pessoa que você quase escondeu atrás de um terno caro de risca de giz ou um vestido estampado hippie chic. E o desconforto por não caber mais nas coisas de sempre dá espaço ao alívio de não sentir o apertado das teimosias que já pareciam fardas.
Saudade dói. Seja na vermelhidão do sutien apertado, seja no calo do sapato inédito. Ora nas marcas antigas que ainda não nos deixaram, ora no novo que se espreme para acomodar.
Mas também é revisitar a história de cada coisa, os momentos escondidos nas manchas daquela calça desbotada, os carinhos daquela camisa de “ficar em casa”, a roupa íntima que de tão velha ganhou o direito de não ser abandonada. O pijaminha tosco que de alguma forma absurda te deixa sexy.
É ver que o que é importante, acaba ficando na mala de algum jeito, acompanha nossos loucos caminhos durante a vida, mesmo em fotografias no fundo falso desses depositários de nossas esperanças. A estar conosco, resistindo, sem que leiam suas etiquetas de “FRÁGIL”, permeáveis aos baldes de água fria, desconsiderando até o veneno da naftalina, até que nossos remendos sejam um só, mala e gente, e de cada um só reste o pó, uma alma livre e as memórias indecentes da mais absurdas das felicidades.
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